No compasso lento da
ambição
Lá, travestis, escroques,
_Acalmem-se garotinhos carentes, todos terão sua vez!
o trânsito entupido de
calhambeques
ronca a espalhafatosa
pólis
Tavares
em série
mesmo com o corpo
derretendo
e a solidão lhe
apodrecendo
mantém sempre o vidro
fechado
para evitar indesejados:
ambulantes
malabares
balas de goma
balas de 38
canivetes
pistolas
ciganos
. . .
Sujeito engravatado
dos ponteiros
das escalas
que desembaça as
lentes do óculos com lenço fino,
que range os dentes
e que não tem nada à
declarar
considerado discreto.
A família em casa
reunião depois do
expediente
Uma carreira promissora
acima de suspeitas
Ao sair de casa
ele recebe “a”
ligação,
um som sombrio
pede apenas atenção,
em seus ouvidos
uma voz dá
as coordenadas:
“a saída da cidade
a saída”
e
antes de desligar
perversa
Seu
coração acelera pisando
fundo na maquina
A luz fraca de espreita o retorno da rodovia
a jukebox movida a
moedas gordas
faz companhia aos
recém-chegados que ali adentram
Região conhecida
como
Boca do sapo
Boca do sapo
Lá, travestis, escroques,
prostitutas,
caminhoneiros
e burocratas acima do
peso
fritam seus cérebros
com cal virgem e whisky adulterado
Noite abafada
todos aguardando
a nova sensação da
boate
Importada direto da
capital paulista,
terapeuta sem frescuras
sem limites
ninfa desalmada
espancadora
performática
ex-artista
viciada
e venenosa
Depois de gastar várias
fichas na jukebox
e beber algumas
Tavares avista um
transexual abrindo a cortina vinho
anuncia a
apresentação da esperada “Ninfa do pecado”
mais conhecida como
"Naja"
E eis que surge a
dançarina,
maquinaria desvairada
exalando diversões
girando seu belo corpo
natural num cilindro metálico
desorientando com sua
pele branca e delicada
aquelas mentes
compulsivas
reprimidas de desejo
e fúria
No fim da apresentação
todos a desejavam
gritavam "Naja!" "Naja!" sem parar
_Acalmem-se garotinhos carentes, todos terão sua vez!
_ Hoje será uma sessão
de dez minutos para cada um, preparem-se meus docinhos!_ela sorriu.
Na toca da Naja
não foi diferente para
o nosso cidadão,
apanhou na cara
ficou de quatro
amordaçado para ela montar
fez beicinho
babou
implorou pela mamãe
tomou um banho de urina
foi torturado com o
salto alto cravado no peito
recebeu várias
chicotadas
teve que gritar várias
vezes que sua esposa era uma vadia de boutique,
cadelinha de luxo no cio
e sem mais delongas,
o ápice da atração,
o ápice da atração,
a nossa querida Naja
enfiou-lhe um exótico “consolo” cromado
e o ordenou Tavares assumir
em voz alta:
EU SOU UM MORFÉTICO!
Na saída
quase que num estado de
nirvana
ele a agradeceu pelo
momento proporcionado
e disse
que da próxima vez,
trará bombons suíços.
Chegou em casa às 23hs
beijou a esposa
cobriu a filha
conferiu as janelas
e foi dormir na paz.
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