sábado, 5 de maio de 2012

Bolsa de valores

No compasso lento da ambição
o trânsito entupido de calhambeques 
ronca a espalhafatosa pólis

Tavares
em série
mesmo com o corpo derretendo
e a solidão lhe apodrecendo
mantém sempre o vidro fechado
para evitar indesejados:

ambulantes
malabares
balas de goma
balas de 38
canivetes
pistolas
ciganos
. . .

Sujeito engravatado
dos ponteiros
das escalas
que desembaça as lentes do óculos com lenço fino,
que range os dentes
e que não tem nada à declarar

considerado discreto.

A família em casa
reunião depois do expediente

Uma carreira promissora
acima de suspeitas

Ao sair de casa
ele recebe “a” ligação,
um som sombrio
pede apenas atenção,
em seus ouvidos
uma voz dá as coordenadas:
“a saída da cidade
a saída”
e antes de desligar
perversa

Seu coração acelera pisando fundo na maquina

A luz fraca de espreita o retorno da rodovia
a jukebox movida a moedas gordas
faz companhia aos recém-chegados que ali adentram

Região conhecida
como
Boca do sapo

Lá, travestis, escroques,
prostitutas,
caminhoneiros
e burocratas acima do peso
fritam seus cérebros
com cal virgem e whisky adulterado

Noite abafada
todos aguardando
a nova sensação da boate

Importada direto da capital paulista,
terapeuta sem frescuras
sem limites
ninfa desalmada
espancadora
performática
ex-artista
viciada
e venenosa

Depois de gastar várias fichas na jukebox
e beber algumas
Tavares avista um transexual abrindo a cortina vinho
anuncia a apresentação da esperada “Ninfa do pecado”
mais conhecida como "Naja"

E eis que surge a dançarina,
maquinaria desvairada
exalando diversões
girando seu belo corpo natural num cilindro metálico
desorientando com sua pele branca e delicada
aquelas mentes compulsivas
reprimidas de desejo
e fúria

No fim da apresentação
todos a desejavam
gritavam "Naja!" "Naja!" sem parar

_Acalmem-se garotinhos carentes, todos terão sua vez!
_ Hoje será uma sessão de dez minutos para cada um, preparem-se meus docinhos!_ela sorriu.

Na toca da Naja
não foi diferente para o nosso cidadão,
apanhou na cara
ficou de quatro amordaçado para ela montar
fez beicinho
babou
implorou pela mamãe
tomou um banho de urina
foi torturado com o salto alto cravado no peito
recebeu várias chicotadas
teve que gritar várias vezes que sua esposa era uma vadia de boutique,
cadelinha de luxo no cio
e sem mais delongas,
o ápice da atração,
a nossa querida Naja enfiou-lhe um exótico “consolo” cromado
e o ordenou Tavares assumir em voz alta:

EU SOU UM MORFÉTICO!

Na saída
quase que num estado de nirvana
ele a agradeceu pelo momento proporcionado
e disse
que da próxima vez, trará bombons suíços.

Chegou em casa às 23hs
beijou a esposa
cobriu a filha
conferiu as janelas
e foi dormir na paz.


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