sábado, 26 de maio de 2012

13hs


Toda cidade está asfaltada
aquela rua
não


o homem das pernas trançadas
oscila na via 
em estado de blecaute

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Só para intelectuais


O filho de quatro anos
ao ver a porta do banheiro encostada
chama pelo pai
o velho responde “hum”

O pequeno abre a porta
e depara-se com o pai no vaso
segurando um livro

Daí
surge a pegunta filosófica
“Pai, você está cagando ou lendo?”

terça-feira, 22 de maio de 2012

Na sonoplastia terror/erótico do contrabaixo


Não é vista para a avenida iluminada
e nem para ser vista no mar...

É vista grossa pra parede
paisagem fora do ar
pomar de frutas delinquentes
onde o facão é mera acrobacia no breu

Nesse quarto
existe quatro ângulos:

1º “o rosto revirado”

2º “olhos revestidos de veias pulsantes”

3º “pés lisos em sax-alto”

4º “quadris e coxas em pose pêra cortada”

Da janelas do nono andar
fotos desumanas,
envolventes
de uma menina loira do tipo sereia bêbada
e de um homem-tal-como-sujo

Dos ocorridos
um fruto foi desflorado 
tessitura desmedida
sem prumo
sem pelo
defumado
dócil e cruel como tentáculos

Desfrutes de uma noite em claro
curtições de uma cidade inimiga

Ela foi a primeira das penúltimas
depois
tudo se tornou horror
certa carnificina

De humano e caloroso
só sobrou o mijo quente no piso de porcelanato,
o isqueiro
e os óculos de grau

A arte dos que não sabem pintar.
pic. Lucas FL.

















terça-feira, 15 de maio de 2012

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Armação

pic. Lucas FL.

. . .

pic. Lucas FL.

A fraude Marginal II - O Eu-babuíno


O lado canhoto do peito
onde reside um certo cujo
coberto por osso carne e pelo
vai ser amassado para reciclagem

Nessa manhã
uma cor reverbera nas mãos,
é a sangria escorrendo de uma lata de refrigerante

Escuto o discreto eco das marteladas pela cidade
e dois terços das manobras políticas erradicando sei lá o que

O portão aberto
e um carro de som anuncia:
“Perigo”

_Nas ruas
a senhora Hibridez anda à solta!

Nas manchetes do dia:

"Literata morre de tristeza num motel"

"Em Tiradentes
a tela de projeção "pega fogo",
carbonizando a frágil plateia-cult"

"Professores de arte reivindicam
menos poesia"

"Avó aposentada
acorrenta o vício da neta
no pé da cama"
. . .

Eu crente nesse mundo...
E um movimento-carente estudantil
ao me ver comprar aquele jornal,
grita:

“A culpa é sua”

sexta-feira, 11 de maio de 2012

“Panifesto” da Poesia Urbana contra o eufemismo e a cátedra


Que fique bem claro seu-dotô
a Poesia Urbana é uma praga
que se alastra como favelas
cheira à água de despejo
perturba como insônia
tem a força do tráfico
e o atrevimento dos pivetes do Brás

Não adianta fechar seus vidros elétricos
e viajar para a Glória, a baía, a linha do horizonte
pois a fome das ruas arranhará sua lataria importada
pichará sua parede
incendiará sua vitrine de magazines

Ela anda como os desprovidos
revela sem eufemismo`
as mazelas humanas
a cidade oculta
a tristeza dos chineses
a loucura reprimida dos garis

Se cuida, turista deslumbrado
um arrastão de versos miseráveis
invadirá sua praia
sequestrará seus fetiches literários,
seus continhos fantásticos,
e estraçalhará sua poesia plástica
num tiroteio hediondo

um conselho?
se não quiser perder a pose
corra para bem longe
esconda-se atrás dos muros doces da academia
dope seus jovens operários com boas doses de informação + títulos
e reproduza robôs mais fortes
o suficiente para dar conta do que você não deu

Aqui fora
as crianças ainda continuam praticando papai e mamãe
jovens morrem com a cabeça vazia no volante
existe uma massa de carne e osso dopada de altas doses-institucionais
escolas apodrecem
falta teatro, cinema orgia para o povo

E você catedrático... ah catedrático!!
só preocupado com a chegada de um livro importado
e o congresso no planeta Hermético

pic. Lucas FL.




















segunda-feira, 7 de maio de 2012

Maquina de poema


Você escritor
que mais parece um entulho de jornais
uma coisa retorcida, enferrujado
mal vista
sem utilidades
infectado
que não cabe mais pilhas
e nem o futuro elétrico

Sucata de sangue
de rodas empenadas
que não se vê no espelho
só em poças

Já teve pressa
alguns livros
muita estória pra zoar
um velho pai
um filho

hoje despreza
o amor
pelos fios


Lucien Freud






















 

Roberta Roberval


Viajei para Pouso Alegre
e a coisa mais peculiar daquela cidade a noite
foi avistar alguns travestis garantindo o ponto e o pão
ao lado da rodoviária

Tenho que dizer
que são belas criaturas irreverentes
inveteradas fumantes
altas e desengonçadas
mais vivas do qualquer atleta de maratona
e mais macho do que muito militar

Num frio do cão
elas ainda conservam uma metade do corpo exposta
dispostas a tudo e a todos

só rezam apenas para não apanharem

Olhei para lua esburacada
e fiz reverência a força humana


















Salvador Dalí.

sábado, 5 de maio de 2012

Bolsa de valores

No compasso lento da ambição
o trânsito entupido de calhambeques 
ronca a espalhafatosa pólis

Tavares
em série
mesmo com o corpo derretendo
e a solidão lhe apodrecendo
mantém sempre o vidro fechado
para evitar indesejados:

ambulantes
malabares
balas de goma
balas de 38
canivetes
pistolas
ciganos
. . .

Sujeito engravatado
dos ponteiros
das escalas
que desembaça as lentes do óculos com lenço fino,
que range os dentes
e que não tem nada à declarar

considerado discreto.

A família em casa
reunião depois do expediente

Uma carreira promissora
acima de suspeitas

Ao sair de casa
ele recebe “a” ligação,
um som sombrio
pede apenas atenção,
em seus ouvidos
uma voz dá as coordenadas:
“a saída da cidade
a saída”
e antes de desligar
perversa

Seu coração acelera pisando fundo na maquina

A luz fraca de espreita o retorno da rodovia
a jukebox movida a moedas gordas
faz companhia aos recém-chegados que ali adentram

Região conhecida
como
Boca do sapo

Lá, travestis, escroques,
prostitutas,
caminhoneiros
e burocratas acima do peso
fritam seus cérebros
com cal virgem e whisky adulterado

Noite abafada
todos aguardando
a nova sensação da boate

Importada direto da capital paulista,
terapeuta sem frescuras
sem limites
ninfa desalmada
espancadora
performática
ex-artista
viciada
e venenosa

Depois de gastar várias fichas na jukebox
e beber algumas
Tavares avista um transexual abrindo a cortina vinho
anuncia a apresentação da esperada “Ninfa do pecado”
mais conhecida como "Naja"

E eis que surge a dançarina,
maquinaria desvairada
exalando diversões
girando seu belo corpo natural num cilindro metálico
desorientando com sua pele branca e delicada
aquelas mentes compulsivas
reprimidas de desejo
e fúria

No fim da apresentação
todos a desejavam
gritavam "Naja!" "Naja!" sem parar

_Acalmem-se garotinhos carentes, todos terão sua vez!
_ Hoje será uma sessão de dez minutos para cada um, preparem-se meus docinhos!_ela sorriu.

Na toca da Naja
não foi diferente para o nosso cidadão,
apanhou na cara
ficou de quatro amordaçado para ela montar
fez beicinho
babou
implorou pela mamãe
tomou um banho de urina
foi torturado com o salto alto cravado no peito
recebeu várias chicotadas
teve que gritar várias vezes que sua esposa era uma vadia de boutique,
cadelinha de luxo no cio
e sem mais delongas,
o ápice da atração,
a nossa querida Naja enfiou-lhe um exótico “consolo” cromado
e o ordenou Tavares assumir em voz alta:

EU SOU UM MORFÉTICO!

Na saída
quase que num estado de nirvana
ele a agradeceu pelo momento proporcionado
e disse
que da próxima vez, trará bombons suíços.

Chegou em casa às 23hs
beijou a esposa
cobriu a filha
conferiu as janelas
e foi dormir na paz.