quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O lixeiro

Vibratos
 de
  um olho-chumbo

Tem café vivo no copo
 onda de borra
  vala
   cheiro forte
 
do globo
 ao desuso

“a turbulência”

Sob luzes
e
ruídos 

"o resíduo"

No corpo
 o anjo degradado

Na lida
 entre restos e
ratos
   aquele
é
aquilo

Carlos da Silva Prado


sábado, 17 de novembro de 2012

Crônicarioca


Um sebo estirado na calçada
e do outro lado da rua
um amigo com o paletó do avesso
atingido pelo gotejo do ar-condicionado   

O atendente é um indiano
desconexo
olhos entornados de pretume
na espera das anfíbias do Arpoador 

Pelo sangue de Hermes!
Duas notas de vinte
para o garoto fazer um corre

Só as três
acontece o desmoronamento
da inutilidade naquele cruzamento
O indiano acaba vendendo três novelas
rebuscadas de pinceladinhas curtas
com o gosto cínico das bailarinas de Degas

Em cada paragrafo da cidade
mulheres e moços de azulejos desfilam
funcionam
mas preferem refresco

As pessoas e os livros
naquela capital
trafegam
resguardando certa sanidade
A inerente vontade de comer areia em público
seria um risco 

Aquele mar tem gosto de geladeira
não tem enguias
não tem lugar
não tem Bandeira

pic. Dani Ribeiro