domingo, 11 de maio de 2014

Para Paula Rego

Um galo dá de comer a um filhote de homem ancorado num poleiro
o sujeito se contorce para receber a coisa ruminada em sua goela

Do lado de fora do galinheiro
uma mulher baforando faz brotar de seu ombro caído
uma víscera paquidérmica
que cresce tão rápida como uma trepadeira vaporosa
subindo pelo ar esguichando um grunhido vermelho

Percebendo a infertilidade dos atos
e sem condições para chamar a atenção
ela  pede em nome do Rabo
um punhal

O pequeno sujeito possui a tal lâmina pendurada no cinto 
e ao suplício da Mulher
ele mira débil,
bem no pomo de adão enrugado do cocoricó
mas lhe falta o seco

Percebendo o hesitar humano
ela blasfema 
e em troco
expõem centenas de seios na praça do parlamento

Esfomeado
ele finge de desentendido
curva-se ainda mais para receber o regurgito
pedregoso daquela ave sem horizonte

Paula Rego

2 comentários:

Murdock disse...

Cara!
Maravilhoso.
Curti por demais essa prosa fantástica coberta de trivial.

Valeu irmão

abrçaos

Lucas Ferreira disse...

Valeu Bicho!!