sábado, 17 de novembro de 2012

Crônicarioca


Um sebo estirado na calçada
e do outro lado da rua
um amigo com o paletó do avesso
atingido pelo gotejo do ar-condicionado   

O atendente é um indiano
desconexo
olhos entornados de pretume
na espera das anfíbias do Arpoador 

Pelo sangue de Hermes!
Duas notas de vinte
para o garoto fazer um corre

Só as três
acontece o desmoronamento
da inutilidade naquele cruzamento
O indiano acaba vendendo três novelas
rebuscadas de pinceladinhas curtas
com o gosto cínico das bailarinas de Degas

Em cada paragrafo da cidade
mulheres e moços de azulejos desfilam
funcionam
mas preferem refresco

As pessoas e os livros
naquela capital
trafegam
resguardando certa sanidade
A inerente vontade de comer areia em público
seria um risco 

Aquele mar tem gosto de geladeira
não tem enguias
não tem lugar
não tem Bandeira

pic. Dani Ribeiro

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