sexta-feira, 18 de junho de 2010

Cinzeiro

Juntamente com o vento de junho, as pipas perdem-se no plano azul. Ao lado de um pequeno ribeirão, meninos jogam bola na vermelhidão do terreiro. Duas ociosas jovens, as geradoras dos meninos, saem de dentro do barraco frio para tomar o sutil sol das onze. Os pequenos shorts apertados explicitam suas longas pernas negras e expõem seus “arrebitados molejos”. Elas assentam no improvisado banquinho de bloco e tábua, acendem suas biras sonolentas e os seus olhares se perdem. A prosa torna-se mole, e a agoniada espera do marginal é amenizada pelo tabaco. O resto do cigarro se esvai ligeiramente como o vento e as cinzas são levadas para algum lugar.

O neguinho grita gol e a bola atravessa a cerca caindo dentro do ribeirão. Ele se desespera e pula a cerca como um bicho. Sem chinelos, adentra a água cinzenta e fétida e em frenética disparada, corre atrás da redonda. Por sorte consegue pegá-la pelo pequeno fluxo de água no ribeirão. Com a chegada do artilheiro no terreiro, os amigos tapam os achatados narizes e a mãe, ao ver o estado do filho, sai do seu estado de languidez. Enfurecida, vai atrás da cria e agarra o arisco bichinho pela orelha, levando-o até a torneira e ao mesmo tempo que esguincha água nas pernas russas do menino, aproveita para acertá-lo com a mangueira. Os gritos da criança naquele lugar não surte efeito algum. O artilheiro, depois do meio-banho e agora de castigo, assiste da janela do barraco seus amigos na pelada.

A negra ácida volta a coversa mole com a irmã.

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