domingo, 30 de novembro de 2014

Poema da série "7 Intromissões"

II

Tem algo de quebra na garganta
que se esconde enviesado
que cheira corte de madeira
e notas
Era uma alegria tão grande
que foi brincar de gangorra num caibro
lençol limpo
num balanço de artéria
e amores

Philip Guston

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

futurível


balaústre atropela vegetal lado a lado sem cabeças
cem degraus

se sobrepondo
cem sombras atropelam
balaústre-vegetal
sem cabeças cem degraus

se
sobrepondo
ou
lado a lado
Vênus
onde foi que perdestes os braços?





domingo, 23 de novembro de 2014

essa é comentada

Poesia

"cometas ao alcance dos dedos 
canções perto do joelho
motoboy metendo o pé na vida"

Comentada por críticos

As canetas andam por aí, mas é passo a passo.
Melhor que seja assim, sem vertigem.
... 
Vou apenas relembrar aquela viagem pra Tóquio em 96,
luzes 
samurais espremidos por metro quadrado ____________________________________________
_________________________________________
_________________________________ aquilo sim, foi uma experiência literária!

Resposta ao escritor lírico

A varejeira e o seu ato de zoar e bater a cabeça sem parar num plano invisível, carrega em si um teor puramente humano. Enquanto ela finge bater as asas, vou recapitulando um ensaio de charcos no jardim de casa.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Ensaio de patas

bicho de espanca-diabos
ratazana
de charmosa plumagem
mata-olhos
nascida de bufões
de um preto e branco preso
esmurrado

nenhuma voz
a não ser...
risinhos
e o esbugalho

com todas as lentes
céu parado
ervas gráficas
colapso
torpor

entre a sorte e o disforme
atalhos e trompas
febris e celas
tácito e orquídeas
hematomas
...cegueira...

certo dia passeou até não aguentar mais
ateou seu intento no ar
e ao longe
duas papoulas
duas côrtes dois arranhas céus
dois hálitos distintos
uma planície
um opiário

E assim
entre tablados
corjas aposentadas
e vilões antigos
batizaram-na
de
enguiço

Willem de Kooning





domingo, 2 de novembro de 2014

Ribeirão Vermelho

















beira do rio
uma mancha barrenta sobe
e cerca as canelas

alto da cabeça
apitã plana com o som de uma locomotiva
e um braço acena para o negro pássaro

curso d'água
meninos pulam de uma draga e explodem no verão
ponte descarnada
praia rebordosa
e os olhos fundos espiando

remanso
a respiração desembarca
rumo aos batimentos 
as pedras vibram
oração bucólica

meio do mato
ruínas de uma rotunda
missa quente
febre entre as pernas
e o descanso dela na varanda