quarta-feira, 31 de julho de 2013

Pão dormido

Num interior arquitetado
um homem a 100 graus célsius
entorna-se na sala de estar
...

Outra manhã
outro ano
sob uma densa cerração
fruto de uma geada de ranger os dentes

despertava um reflexo pálido no
verniz de um instrumento
meio azul janela cortina

Lá fora
antenas
o fim da rua
os galhos
quase tudo
tragado por um nevoeiro
afogado num meditar profundo

sem pássaros

nenhuma criança nas varandas
nenhum ciclano lavando o carro
dois gatinhos ofuscados dormindo debaixo de um caminhão
um galo distante

No caminho do trabalho
um graveto andando
batendo nas grades das casas médias

O tintilar vibrafônico 
despertou alguns cachorros mimados
correram para as grades
rosnaram
latiram
e o graveto se lançou para dentro de uma construção escura

Mais a frente
uma longa escadaria
relembrando coisas
ex-motocicleta
ex-febre
ex-mulher
...

e de repente
um trope-
                ço num dos degraus

não teve como equilibrar
as lembranças foram batendo se espatifando
espirrando pelo chão
as imagens estourando
esguichando traços tórridos

Jackson Pollock

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