terça-feira, 9 de julho de 2013

Bocarra

Imagino um mambo
onde os passos tropeçam ardentemente
sem ajeito de gola
no embaraço da cabeça ao leito
dente a dente

No embalo do trombone e da conga
ouço um par dançante se chocando
vejo luzes afoitas acendendo e apagando em prédios
e um morro recortado por Gaudí

Peças esparsas no colchão
uma cama-de-gato
somos dois três Mi Sol
um quarto-barato
um mosaico

Uma face vitral
onde o vento
atravessa assoviando uma canção em Dó menor
uma coisa de mal

Eu diria
uma insanidade em partes
ruída nas poucas horas que lhe resta
indiscriminadamente
uma odalisca estilhaçada
que entre as pernas,
troianos e Helenas-loucas
let's dance

A absurda fatalidade
de poder ser espatifado por uma paixão
faz um crivo no peito
onde vaza salsa e coentro

Esse prelúdio pode acabar mal
mas o dorso
o risco
até o tédio
versa
um rabisco inebriante na saída


Antoni Gaudí
 

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