domingo, 23 de dezembro de 2012

Via sacra


A mão desce a alcinha para um outro ângulo
curativo no dedão
e um olho esbugalhado

Ana pra baixo
Regina dirigindo

Um negro na rua
trajando
parte de uma farda camuflada

Na terceira marcha
o para-brisa desperta
e o vidro chuvisca

Passa em sépia:
uma praça defumada
chafariz magro
bancos morgados de sono

O cheiro da foda vazando
indo pra sarjeta
o cara no chão
o carro em fatias

Regina maquiagem
Ana mascarada
e o negro sabotado
vão se decompondo
cada qual em seu canto

Os três em alarido
com defeito de fabrica
num teste drive

tudo fechado
tudo fechado
tudo fechado

Amanhã eles trabalham
pegam cedo

Regina dentista
Ana vendedora
o Negro frentista


Tela: Ernest Descals

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