quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Ele ainda mata o criador


Com alterações nas digitais e a face à base de corticoides, meu personagem não cheira e nem fede. Ele descasca. Almoça em lanchonetes pensando que vive e usa a mesma calça jeans a semana toda. Seu nome é Jean, sujeito intransmissível, mais vivo do que morto, até hoje... Possui uma carteira de identidade, juntou-se com uma mulher mais velha e herdou três enteadas preguiçosas. A coroa decadente foi a única a suportar as escamações de Jean. O tal problema é de cunho psicológico, quanto mais pressionado mais ferido ele fica. 

Semana passada seu suado carro 98' fundiu o motor e a enteada mais nova fugiu de casa. O choro desmedido da conjunge, a falta de coito e o cansaço dos dois empregos levaram Jean a um certo limite emocional, e como era de se esperar, abriram fendas por todo corpo, seu rosto escureceu, e devido à intensa coceira, as virilhas ficaram em carne viva. Teve vergonha de pegar ônibus e as ruas com seu repudio crônico aumentava ainda mais a ansiedade e o desespero do pobre coitado. Quando o encontrei, estava um sol de rachar, ele usava o capuz da blusa e evitou parar para conversar, mas insisti. Comentou que havia encontrado a enteada e que a retificação do motor lhe custou os olhos da cara. Eu não disse nada sobre seu traje, mas sabia que escondia seu drama epidérmico.

Francis Bacon

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