Com
alterações nas digitais e a face à base de corticoides, meu
personagem não cheira e nem fede. Ele descasca. Almoça em
lanchonetes pensando que vive e usa a mesma calça jeans a semana
toda. Seu nome é Jean, sujeito intransmissível, mais vivo do que
morto, até hoje... Possui
uma carteira de identidade, juntou-se com uma mulher mais velha e
herdou três enteadas preguiçosas. A coroa decadente foi a única a
suportar as escamações de Jean. O tal problema é de cunho
psicológico, quanto mais pressionado mais ferido ele fica.
Semana
passada seu suado carro 98' fundiu o motor e a enteada mais nova
fugiu de casa. O choro desmedido da conjunge, a falta de coito e o
cansaço dos dois empregos levaram Jean a um certo limite emocional,
e como era de se esperar, abriram fendas por todo corpo, seu rosto
escureceu, e devido à intensa coceira, as virilhas ficaram em carne
viva. Teve vergonha de pegar ônibus e as ruas com seu repudio
crônico aumentava ainda mais a ansiedade e o desespero do pobre
coitado. Quando o encontrei, estava um sol de rachar, ele usava o
capuz da blusa e evitou parar para conversar, mas insisti. Comentou
que havia encontrado a enteada e que a retificação do motor lhe
custou os olhos da cara. Eu não disse nada sobre seu traje, mas
sabia que escondia seu drama epidérmico.
Francis Bacon |
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