domingo, 23 de maio de 2010























Por mais que se esquivasse dos pingos grossos que caíam das beiradas de um ou outro telhado, seu cigarro já estava quase apagado, seus livros agora não estavam valendo mais de 10 reais, e não eram suficientes para comprar uma garrafa de pinga e cigarros por uma semana. Alguém poderia ajudar, mas seu orgulho meia-pataca azedava com qualquer telefonema da mãe oferecendo dinheiro. Aceitava, mas azedava.O emprego no banco bastava para pagar suas dívidas e bancar uns caprichos que tinha. Dizia a si mesmo “Sem caprichos não tem porque trabalhar nessa cidade de merda”. Na verdade há muito já não tinha capricho algum. A pinga e o cigarro eram corriqueiros e agora dos mais vagabundos, mas como era de praxe os vícios sempre eram considerados caprichos, dos quais nunca abria mão, exatamente por chamá-los de caprichos.

                                         Frederico Gomes

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