No travesseiro
dois serventes descem andaimes
como aranhas
labutam num prédio
que por dentro
range uma antiga garganta
e a verborragia
Da janela dos fundos
se vê
dois eucaliptos velhos
balançando contra o vento
e no silêncio dos cômodos
mais um avô
para de comer
alegando reumatismo
* * *
Sonâmbulos
carregam
e translocam
penas de ganso
Uma madrugada
um assalto na geladeira
Salvem a cabeça do
guarda-noturno!
* * *
Saio obstinado para limpar a
gosma impregnada nas retinas
No lava rápido
o jato minguante de água
vaza dos olhos gelatinosos do
frentista
Nessa espera
acendo uma chama dentro de uma
caçamba
* * *
Na queima de sacos vazios de cimento
uma fumaça preta
atrai a atenção de cybermichês
Um motim se forma
canelas
pedras
titânio
cadeiras plásticas
e próteses
invadem portarias
arrasando tudo que pulsapic. Lucas FL. |