sexta-feira, 31 de maio de 2013

Cafezinho

No travesseiro
dois serventes descem andaimes como aranhas
labutam num prédio
que por dentro
range uma antiga garganta
e a verborragia

Da janela dos fundos
se vê
dois eucaliptos velhos
balançando contra o vento
e no silêncio dos cômodos
mais um avô
para de comer
alegando reumatismo

* * *

Sonâmbulos
carregam
e translocam
penas de ganso

Uma madrugada
um assalto na geladeira

Salvem a cabeça do guarda-noturno!

* * *

Saio obstinado para limpar a gosma impregnada nas retinas
No lava rápido
o jato minguante de água
vaza dos olhos gelatinosos do frentista

Nessa espera
acendo uma chama dentro de uma caçamba

* * *

Na queima de sacos vazios  de cimento
uma fumaça preta
atrai a atenção de cybermichês 

Um motim se forma
canelas
pedras
titânio
cadeiras plásticas
e próteses
invadem portarias
arrasando tudo que pulsa

pic. Lucas FL. 

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Osmo-K futurismo-tour

pic. Lucas FL.




















Foguete solitário

bomba de ar

estovaína espalhada por entre crateras

Sem rotas adágios anos-luz
no espaço
no telescópio
um diáfano
um tiro dois sétuplo

Fendas
farelos de astros
um bolso rasgado no vácuo 
o infarte lógico
trincas perto de Marte

Um céu?
Não.
Eu diria,
um pombal óptico
um oco de cores feito de pequenos habitats
onde vivem os bi-sujeitos
e
o
Glaviusrito
(ave predadora
cuspidora de enxofre
que gorjeia verbalmente:
“tudo-obscuro-sangriluz-langroias”
Sopro descarrilhado 
trapéziofônico
melodia canceriana)

No horizonte

meteoros cheios de retinas currando algumas órbitas

bumerangue passeando

e uma alcateias de redemoinhos uivando

Na praça central
um astronauta em transe
monumento fragmentado
que perdeu um dos cotovelos
ruína espacial

terça-feira, 7 de maio de 2013

Braços


Naquela noite você sonhou com um casal de andorinhas atacando um tucano

com um gavião planando num terreno baldio

com o cansaço do beija-flor

com as longas asas abertas de um urubu imperando nas voçorocas

Enquanto você dormia
e suava
o beco amanhecia nas suas asas de rapina

Na barganha dos anos
recebeu
um belo par de seios angolanos
o sotaque do espúrio
uma cintura fina
e sete vidas