domingo, 13 de fevereiro de 2011

Shadows


Ia falar da noite lavrense, mas esta luz, este sol, estas miríades de cores a me atravessar as pupilas me inspiram outra coisa.

Falarei, pois, do encanto diurno, do bucolismo acentuado que chega a marcar a cidade com o (belo) estigma do brejeirismo, da graça interiorana e provincial.

Em Lavras, ao andarmos pelas calçadas de qualquer rua, em qualquer bairro, é preciso que nos mantenhamos sempre atentos, olhar projetado à frente. O risco de toparmos a testa em algum luxuriante carvalho é grande.

Por aqui, do escaldante verão ninguém sofre a pena. Caminha-se à fresca por toda a parte, mesmo no mais abrasivo meio-dia. E os rostos femininos podem ser contemplados com a delicadeza que somente uma sombra vegetal proporciona, sem o derramamento de cores, ou qualquer ansiedade ruborizada e suarenta. As copas das árvores, em sucessivas alamedas, oferecem essa paleta de pura sobriedade, de frescor umbroso que retém as cores e linhas e epidermes em seus devidos contornos.

Os quase tapetes de folhas e filifolhas, que cobrem diariamente as calçadas e ruas, podem por vezes nos trair e derrubar os mais incautos. É um preço pequeno a se pagar por tamanha carícia visual. Egocêntrica e insatisfeita com seus espaços determinados, a natureza, num último esforço de expansão, faz dos asfaltos a morada derradeira de seus frutos, folhas e pequenos galhos. Fermentação, doce troca molecular, aroma indefectível de asfalto e verdura se confundindo a 32º C.

É verão na cidade das árvores!!, é a temporada da luz extrema devidamente atenuada pelo anteparo generoso de 27289 árvores (segundo o último censo), espalhadas em todos os recantos dessa charmosa localidade.

Vista de um avião, fotografada das alturas, Lavras adquire sua dimensão mais exata. Uma enorme mancha verde aqui e ali maculada pelo cinza de seu casario século XIX, ou pela imponência concreta de edifícios magníficos. Mas nesta aquarela o verde predomina, dita seus tons a um tempo delicados e firmes.

Lavras, cidade enraizada no culto ao verde, no ardor de copas magníficas que, em seu ímpeto e largueza, quase nos desfalece numa hemorragia clorofílica.

Para chegar a Lavras, queridos peregrinos, basta seguir as indicações deste site (organizado por este escriba).



Adieu!!

(Autor: Garrel) Texto retirado do Guia Verde Lavrense, de autoria de Garrel (Edições Ipês, 2006, páginas 112 e 113).

Um comentário:

Lucas Ferreira disse...

Cara, de início achei que você estava ficando louco, mas percebi a ironia decorrente do calor absurdo, dos passeios secos e dos amontoados de concreto que nos cerca.