domingo, 30 de janeiro de 2011
Macaia
O
carro 1.0 acelera pouco
procura alguma cidade
debilitada pelo simplório
procura alguma cidade
debilitada pelo simplório
onde
homens e mulheres sobrevivem
da
pesca ilegal
da
fritura de pequenas traíras
vendendo
cerveja a três 'conto'
para
turistas pobres como você
Na
estrada
alguns
fenômenos pingados
um
caroneiro cozinhando no asfalto
caminhões
impedindo a passagem
um
andarilho em sua rotina
o
vento - albina vazão
Chegando
no pequeno lugarejo
“A
abatida Igreja à beira d'água”
Portas
fechadas
pombos
na torre do relógio
Na
margem da represa barrenta
Um
estranho lamaçal_
Um
negão de meia idade
encostado
numa
RANGER 2.4 monumental
ao
seu lado
uma
ninfeta amarela
sentada
abraçada
com os joelhos
usando
um micro biquíni vermelho
esvaziando
uma lata de cerveja
e
baforando seu cigarro mole
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
AVISO DE DESPEJO
Lagartixa Morta - foto de Rafael Nolli
O poeta mente quando diz
colhida nos verdejantes jardins da vida .
O amor, deveria ele dizer ,
é o ato de desespero
no qual o homem se agarra:
é o chão que anseia o suicida –
é o porto seguro onde se ancora
e mente duplamente quando diz que Deus
nos fez para amarmos uns aos outros .
O amor, deveria ele dizer,
é a bóia que anseia o afogado,
e mais água em sua ânsia de boiar –
à baixo um universo de barro e lodo .
* do livro Comerciais de Metralhadora
L. RAFAEL NOLLI
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
Vista
A estranha prosa do viúvo com o vizinho negro
sobre dormentes de trilhos
O filho morgado mantinha-se imóvel na sala
e nos sofás
algumas primas
algumas primas
com almofadas sob as barrigas
O seguro cobriu 70% do rustico caixão,
mais a maquiagem da defunta,
coberta de folhagens e flores
a matriarca havia cumprido o protocolo
A filha caçula
usava dois fones nas orelhas
ouvia algo
e pouco chorava
domingo, 16 de janeiro de 2011
Janeiro
Numa janela do
segundo andar
o
velho Joel
o
hipertenso chuvisqueiro
a
rua esburacada
e
as grandes poças encardidas
Fios
elétricos servindo de refúgio
aos
pássaros
Ervas
daninhas
proliferando
no encolhido beiral
“rua
entorpecida “
Na contramão
tizius
o
ribeirão
o
o
I s”
s
b
s
“ a
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Do caos a estrutura
João Cabral
"Vinicius de Moraes faz poesias para embalar o leitor, enquanto eu a faço para jogá-lo no chão"
Certo dia Cabral parou para escutar alguma coisa do Vinicius com Jobim. Na quarta música, eis que surge novamente a palavra "coração". Não se conteve e pê da vida: "Ô Vinicius, não dá para trocar de vícera, não?"
Uns versos com rins, sinusite, dores de cabeça, estrias, sabão...
"O artista, embevecido, penteava a metáfora, trocava uma palavra, bordava outra imagem, tudo no varejo do verso, e não no atacado do poema." Para Murilo Mendes.
Lendo essas críticas do Cabral e mais alguns troços, pensei logo em todos esses blogs e sites inchados de devaneios hormonais, abstrações, romantismo, metáforas, fantasias, o mundo da lua e etc e tal...
E o que anda faltando nessa atual "poética do cocô mole estrelar", é pedra! Não a de Drummond, mas uma que faça o poeta distraído cair com a cara no chão engolindo terra goela abaixo.
domingo, 9 de janeiro de 2011
Prematuro
Seis da manhã
olhos entreabertos
sono pedente
aquele resto de juventude despertando
As duas canetas esferográficas no bolso
documento de identidade
e o papel indicando o local da prova
Adentra a cozinha
a mesa
cinco conto pela metade
cinco conto pela metade
pratos e talheres molestados
a pia enfurnada de louças sujas
formigas
formigas
Passa pela sala
uma bicicleta revirada no piso frio
cds espalhados
um livro
manchas de infiltrações
mofo nas periferias do comodo
Abre a porta que arrasta no chão
sobe os degraus verdes de musgo
o portão cinza ressoa como um galo enferrujado
Ao ver a rua de outono
um vento seco e psicanalítico esbarra-lhe
os lábios ressecam
e por um instante
seus olhos se empoçam de lágrima
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Assinar:
Postagens (Atom)