sábado, 22 de maio de 2021

Pedra Negra

RIO acima

de outra enseada 

ferragens, verão!

dos arbustos enfezados 

o calcário que sobe em esteiras

canta pedreira 

o arrebento que levou meus camaradas 

 

 INVENTANDO PRECE

 "São Benedito da manhã, 

 língua que desce e estrangula o capim 

 seu bafo de cordeiro 

 névoa que formiga pastagem..."


MODERNA

Represado e ondulante 

olhos de diaba que amanhece 

da sua carniça beira-estrada brotam anus-brancos

 ao leste pequenos lagos 

e os seus últimos garotos perfumados


sábado, 13 de março de 2021

Engenho de Fora

descendo para o PA-60

(grupo de apoio para perda de audição 60%)

caminhada perseverante

policiando

me preparando para o encontro

"quando um burro fala"

...

chegando lá

boca, o texto no bolso e o tornozelo

enquanto isso

Elvira com a palavra 

recitava:


"o sol abate o amarelo

seu leito são rastros

é transparência que queima carícias cervicais" 


Era uma poetiza de mão no queixo

eu adorava 


minha vez

a mão e o aumento do pulso 

o púlpito e o tórax

cavalos e amigos

"hoje atendi o celular pelo lado estranho do corpo 

(perda de 80%)

e disparei meu uivo:

ok, entendi, certo, tudo bem, ahan, hun, sei, sem problemas, eu que agradeço

do outro lado da linha a formiga chiadeira"

Elvira emocionada

alguns vibraram as mão


em casa  

meus sonhos viviam uma nova fase

rochas deterioradas por ventos 

folhas varridas, cambalhotas

sombras de urubus nos barrancos

e o chuveiro pingando baquetas no prato de ataque

sábado, 30 de janeiro de 2021

Miragem

o beiral e seus lençóis esvoaçantes  

agitando espectros na parte superior do sobrado 

o marca-passo da esquina cantando todo o vapor encarnado de meninos e meninas:


"beberemos novamente 

ontem, hoje  e aos quinze anos

estamos enfeitiçados de morte

sou buda vivo

sou água de prazer"


todos comem e dançam no sobrado 

vista lunar do quarteirão   

atentos ao movimento de

palmeiras guizos e rumores 




sábado, 23 de janeiro de 2021

Cânions

I

da sustentação que cada estrutura carrega

e das tiras de couro que fortalecem a ponta de uma bota 

forte é a musculatura que mingua sob o luz


II

a cada requadro  alimentado de rachaduras

os pés de vento

movendo dois homens 

e uma moto ladeira acima

procurando o próximo atentado

atirando ----------------------------------------- o fim de tudo


III

dentro da estátua verga o indefinido

soando tambores ao nível d´agua 

resvalando outras dimensões

esquartejado pela geometria

podamos a nossa horta como taturanas



sábado, 7 de novembro de 2020

Espaço

a romã fraturada
sacode intensa 
sua crista sobre o calor  

No rumo do pé 
escuta-se um piado 
entreaberto 
com dois furos superiores
que não cheiram
mas bufam 

da fruta 
ao 
bico
entre o papo azulado
e o gomo de rubis

uma mão pelada atravessa a paisagem
vergando os galhos
arrancando pedaços 

Philip Guston
                 

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Romaria

sacudindo feito onda
o leite  fermenta
no tanque escuro de um caminhão

a vaca de eixos pesados 
beira a profusa mureta 
ruminando o entardecer das estradas

os romeiros saúdam o farto mamífero
assam e clamam pela aparição de  Maria no acostamento
salve Aparecida!  
salve o mato!
salve três pontas!

De longe a santa é feita de clara, ereta 
junto desidrata 
quando ensolarada craquela
coisas de alta fusão
diz que é de parafina ossada ciclópica 
,
e se não rogai ... 
blasfema o caminhoneiro:
_se não comi, não pago!